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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um momento, um Devaneio...

Posto aqui nessa manhã de segunda-feira um conto escrito por uma amiga muito querida.



Dias desses, meus olhos tristes de poeta cansada avistaram uma menina num ponto de ônibus, cabisbaixa, brincando com uma flor velha....eu fiquei imaginando. Imaginar é coisa que sempre faço, não o por quê dela estar lá sozinha, nem o por quê do seu olhar tão baixo...mas o por quê dela ter colhido aquela flor há algumas horas atrás...
Era de alguém??Era pra alguém???Era especial??
Eu, no fluxo do dia tão corrido, não pude evitar estacionar e ficar olhando, quase que pedofilicamente àquela cena que, pra mim, foi tão estrutural...tão estruturante...
Aquela menina perdida no ponto de ônibus estava na transição... Numa transição de vida que faria com que a chegada do ônibus fosse completamente secundária...
Talvez o que ela quisesse entender mesmo era que prazer onipotente era aquele de tirar alguma coisa com vida do seu lugar de origem e ficar assistindo a mesma coisa padecer na palma de suas mãos... Olhando fundo praquilo...até o aquilo morrer.
Não poderia nunca eu entrar naquela cabecinha tão pequena e uniformizada pra tentar entender o que talvez nem ela entendesse.... Mas o que eu fiz foi esperar o velório...
E ela, vendo que a flor já murcha não tinha pra onde ir....guardou-a num livro bonito de capa dura...pra que ela pudesse encontrar seu jazigo eterno...e perfurmar as páginas daquele livro de criança; que ela certamente um dia, já adulta, votaria a ler...
Foi a maneira de enganar a vida...
Foi a maneira dela de não topar com a morte...
Eu admirei, pois eu mesma não faria melhor....
Engatei a primeira, e segui....pra meu compromisso...porque já estava atrasada!!


Karla Ribeiro

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